A solução civilizada e pacífica para a gravíssima crise institucional brasileira é Política. A situação tomou (ou retomou) o Poder. Prioritariamente, lutará para mantê-lo. Na retórica, pode até prometer ir além disso. Só que essa postura é autoenganosa. Por isso, a oposição brasileira precisa de uma estratégia política concreta, de táticas bem definidas e de perspectivas realistas. Não pode cair – nem insistir – na teimosia meramente reacionária ou na utópica ilusão revolucionária. Também precisa rejeitar e fugir das tentações autoritárias. Tende a ser inviável – e insustentável no curto prazo – qualquer intenção de “golpe” no adversário ou inimigo. O mesmo vale para os ocupantes do poder. Abusos de autoridade e exibições de força para tentar acabar com opositores não perduram, e podem justificar um “troco” na mesma moeda desvalorizada. Os extremos em conflito não devem bancar os rebeldes primitivos. Bronca (ideológica) é ferramenta de otário. A obsessão sobre Bolsonaro só alimenta o “mito”.
Pacificação é possível? Onde? Quando? Como? O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acatou o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e incluiu o ex-presidente Jair Bolsonaro na investigação sobre os atos de vandalismo ocorridos no Distrito Federal. Tradução: Arma-se a narrativa e a “justificativa” jurídica para que Bolsonaro acabe condenado, preso e perca seus direitos políticos. O PSOL propõe que Generais na ativa e que atuaram no governo Bolsonaro também sejam punidos por “tentativa de Golpe de Estado”. O Comandante-em-chefe Lula – que já foi condenado, preso, perdoado e voltou para tomar o poder vencendo a eleição – concorda com tamanha truculência Quais as consequências de o Sistema calar e esmagar formadores de opinião rotulados como “bolsonaristas” ou pessoas comuns que simplesmente apoiaram o ex-Presidente?
O Partido dos Trabalhadores decidiu que a guerra continua. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, twittou: “O Brasil assistiu nessa eleição a mais poderosa máquina de desinformação e uso de recursos públicos para eleger um candidato. Mesmo assim, Bolsonaro foi derrotado. Mas o bolsonarismo continua ativo e mobilizado nas ruas e nas redes. É sobre isso que vou escrever: Bolsonaro gastou 300 bilhões de reais do povo brasileiro para tentar se manter no poder. Fora a quantia de recursos não contabilizada oficialmente, de setores que tinham interesse em sua vitória, e despejaram rios de dinheiro para promover o medo, o ódio e as Fake News. Uma poderosa máquina de comunicação com recursos públicos e privados, legais e ilegais, esteve no centro da estratégia de poder de Bolsonaro. Grande parte desta estrutura segue atuando e foi por onde os atos criminosos foram organizados. O ‘gabinete do ódio’ não se desfez. A disputa da narrativa, a verdade contra a mentira, a desconstrução das Fake News, e das teorias mais absurdas e incríveis é uma tarefa complexa e difícil. O mundo se debruça sobre esse fenômeno e busca respostas e soluções que protejam a democracia desta crescente ‘corrosão’”.
Paulo Pimenta acrescentou: “A nova Secom terá uma tarefa importante neste processo. O decreto de criação da Secretaria será publicado no dia 24/1 e até lá estamos planejando a estrutura e tarefas da comunicação institucional do governo. Paralelo a isso precisamos reativar a rede de ‘defesa da verdade’. A sociedade civil, os influenciadores digitais, os partidos políticos, os movimentos sociais e tantos outros ‘sujeitos’ tem um protagonismo importante e insubstituível nesse processo. Compreender isso e ativar essa ‘força’ organizada é fundamental para a defesa da democracia. O presidente Lula foi muito firme em determinar um conjunto de medidas e ações em defesa da CF e do Estado de Direito. Os três poderes responderam com energia aos atos criminosos e ações dos golpistas. A democracia saiu fortalecida e os criminosos serão punidos. É tarefa de todos(as) que compreendem o que está em disputa fazerem a sua parte. O Brasil não suporta mais o ódio, a intolerância, as mentiras e a violência. A hora é de união e reconstrução. Faremos nossa parte e convidamos os democratas a fazerem junto conosco essa jornada”.
Traduzindo o discurso marketeiro: O governo Lula está montando uma espécie de “Gabinete do Amor” no Palácio do Planalto. Tudo indica que o novo esquema de comunicação da Secom, além de ser mais generoso na distribuição de verbas de propaganda com veículos de comunicação tradicionais, vai coordenar uma rede de influencers digitais para defender Lula e divulgar os feitos oficiais. Nada existe de ilegítimo nessa estratégia de comunicação institucional. Além do mais, comunicar melhor que Bolsonaro nem é um desafio tão impressionante, já que o ex-Presidente falhou demais nesse quesito fundamental. O problema é se a política comunicacional continuar focada na geração permanente de conflitos políticos. Se for assim, é altíssimo o risco de o feitiço virar contra o feiticeiro. Na eleição, o PT venceu a guerra de comunicação – ou foi Bolsonaro que perdeu. No governo, o jogo exige estratégia e pragmatismo. Erros custam caríssimo. Manter a polarização permanente com o “bolsonarismo” pode ser um dos maiores pecados capitais do PT. Só beneficia Bolsonaro, e o mantém vivo politicamente, posando de vítima. Lula e seu grupo precisam entender que o Brasil quer e precisa de avanço econômico e político. Demagogia e acirramento de tensão são totalmente dispensáveis e muito perigosas. A crise institucional pode ficar fora de controle, mergulhando o País em uma “Democradura” (uma ditadura democrática ou uma democracia ditatorial). Isto só interessa à Cleptocracia – o regime do Crime Institucionalizado e seu Mecanismo.