Uma cepa do vírus da dengue nunca identificada no Brasil foi detectada pela primeira vez em Aparecida de Goiânia, em Goiás. Para os cientistas, a chegada dessa variação preocupa, porque existe a possibilidade de ela se disseminar de forma mais eficiente do que a linhagem que atualmente circula no país.
A descoberta é de pesquisadores da Fiocruz (Instituto Oswaldo Cruz), em parceria com o Laboratório Central de Saúde Pública de Goiás, e foi divulgada nesta quinta-feira (5).
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“Ainda não sabemos como será a proliferação do genótipo cosmopolita no Brasil. Mundialmente, ele é muito mais distribuído e causa mais casos do que o genótipo asiático-americano, que circula no Brasil há anos. O quadro global indica que a linhagem cosmopolita tem capacidade de se espalhar facilmente”, afirma o coordenador do estudo, Luiz Carlos Júnior Alcantara, pesquisador da Fiocruz.
A descoberta do genótipo do sorotipo 2 do vírus ocorreu em fevereiro deste ano, a partir de uma amostra de um caso de dengue de novembro de 2021. A linhagem é bem disseminada no mundo e está presente na Ásia, no Oriente Médio e na África, mas nunca havia sido encontrada no território brasileiro. Esse, aliás, é apenas o segundo registro oficial nas Américas, após um surto no Peru, em 2019.
O avanço da dengue em Goiás fez o estado chegar à segunda posição em número de mortes pela doença em 2022. Segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, a cada 100 mil moradores de Goiás, 1.300 têm ou tiveram dengue neste ano.
No entanto, a possibilidade de associação entre a cepa e o aumento de casos de dengue no estado é, até o momento, descartada pelos cientistas com base no sequenciamento genético de amostras realizado no estado.
Ao todo, cerca de 60 genomas foram decodificados pelos pesquisadores nas duas primeiras semanas de fevereiro. Essas amostras foram selecionadas de forma aleatória entre as amostras de casos de dengue confirmados pelo Laboratório Central de Saúde Pública nos meses anteriores.
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Segundo a pesquisa, aproximadamente metade pertencia ao sorotipo 1 e a outra metade ao sorotipo 2. Entre as amostras do sorotipo 2, apenas uma era do genótipo cosmopolita e todas as demais apresentavam o genótipo asiático-americano, atualmente circulante no Brasil.
“Os dados mostram que o surto de dengue em Goiás não é causado pelo genótipo cosmopolita”, declara Alcantara, acrescentando que a dengue tem comportamento cíclico no Brasil, que se relaciona com diversos fatores ligados ao vetor e ao vírus, assim como às condições climáticas e de vida da população.
Considerando a rápida identificação do genótipo cosmopolita, os pesquisadores avaliam que é possível agir para conter a sua disseminação. “A detecção precoce permite reforçar as medidas de controle. Esperamos que isso possa ajudar a limitar a propagação dessa linhagem no Brasil e nas Américas, onde já temos um cenário epidemiológico complexo, com múltiplos patógenos em circulação”, avalia a primeira autora do estudo, Marta Giovanetti, pós-doutoranda do Laboratório de Flavivírus do IOC/Fiocruz.