(crédito: Mário Agra/Câmara dos Deputados)
Fonte: Denise Rothenburg, Eduarda Esposito, Fabio Grecchi/Correio Braziliense
A poucos dias do segundo turno das eleições municipais, os políticos começam a desembarcar do pleito e a se preocupar com a próxima temporada eleitoral, composta pelo seleto grupo de eleitores formado por 513 deputados e 81 senadores. A partir da semana que vem, com a definição dos novos prefeitos e o mapa da força de cada partido definido, novos padrinhos vão entrar em cena, especialmente, na corrida pela Presidência da Câmara, a mais embolada a preços de hoje.
Gilberto Kassab, comandante do PSD, jogará suas fichas na campanha do deputado Antonio Brito (PSD-BA), enquanto o Republicanos do também deputado Hugo Motta (PB) espera contar com a ajuda do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, filiado ao partido. Já o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), espera uma ajuda de aliados à direita — leia-se Ronaldo Caiado, governador de Goiás e seu correligionário —, e também da esquerda, caso do PDT, que o apoia assim que seu nome foi cogitado para a disputa.
Consenso?
Os bastidores estão em plena ebulição desde que o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), desistiu da candidatura e lançou o nome de Motta. A ideia era apresentá-lo como o nome de consenso para suceder o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Deu errado. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse que não aceitava uma definição assim, de bate-pronto.
Inconformado porque Lira prometeu-lhe apresentar como o nome de consenso, Elmar também não arredou o pé da pré-candidatura. Assim, uniu-se a Brito com o seguinte acordo: quem chegar ao segundo turno da corrida à sucessão de Lira, apoia o outro. Assim, o consenso esperado em torno de Mota não durou sequer 24 horas.
A resistência de Elmar e de Brito levou o PT a pisar no freio e não apoiar nenhum candidato no curto prazo. Conforme antecipou a coluna Brasília-DF, em 17 de setembro, os dois ofereceram a primeira-vice-presidência da Câmara aos petistas. Motta, por sua vez, foi no caminho oposto: ofereceu o cargo ao PL, do ex-presidente Jair Bolsonaro e de Valdemar Costa Neto. Apesar das pressões do Republicanos para que o PT aceite a secretaria-geral da Casa, a tendência é esperar. Um grupo de deputados do partido realizou um jantar com Motta e receberá Brito e Elmar em encontros separados.
Até aqui, Lira não deu uma entrevista e nem fez um pronunciamento oficial para anunciar seu apoio a Motta. Mas participou de almoço com os petistas ao lado do candidato e isso foi entendido como um apoio formal. Amanhã, os dois estarão novamente juntos em um evento do agronegócio, em São Paulo.
Na avaliação de aliados de Brito e Elmar, Motta até agora só conseguiu juntar o Republicanos e o PP do senador Ciro Nogueira (PI). O PDT já fechou com Elmar, que trabalha no mesmo caminho que Lira trilhou em 2021, quando foi eleito com o apoio formal do hoje candidato Elmar.
Aliados do União Brasil e de Brito dizem, nos bastidores, que Lira está blefando ao dizer em conversas reservadas que tem os votos para eleger Motta no primeiro turno. A corrida começou agora e, à boca pequena, a avaliação é de que a foto do deputado do Republicanos com vários líderes num almoço em Brasília, em meados de setembro, não pode ser lida como um sinal de apoio, porque era apenas para comemorar o aniversário do líder. Com essa mesma informalidade, todos os líderes foram as festas promovidas por Brito e Elmar, ambas em julho.
Com três candidatos em campo, cada segmento da Câmara coloca suas pautas importantes na roda. Valdemar Costa Neto avisou a todos que o PL apoiará quem colocar em votação a proposta de anistia aos acusados pela tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro de 2023 — e, de quebra, uma anistia também para o ex-presidente Jair Bolsonaro, para que ele possa ser candidato ao Palácio do Planalto em 2026. Até aqui, o máximo que o partido conseguiu foi a vice-presidência da Câmara oferecida por Motta. E, se o candidato do Republicanos garantir a votação de propostas nesse sentido, perderá toda a esquerda e parte do centro que não deseja Bolsonaro candidato.