Foto: Saul Loeb/AFP
Fonte: Rodrigo Craveiro/Correio Braziliense
Enquanto Joe Biden corteja os demais líderes dos países-membros da Otan, os bastidores da política norte-americana fervem, a apenas 39 dias do início da Convenção Nacional Democrata, em Chicago. Nas últimas horas, mais congressistas aliados ao presidente dos Estados Unidos somaram suas vozes às dos colegas que pedem ao governante de 81 anos que abandone os planos de reeleição. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, a influente Nancy Pelosi, 84, se recusou a apoiar a candidatura de Biden nas eleições de 5 de novembro. “Cabe ao presidente decidir se vai se candidatar. Todos o encorajamos a tomar essa decisão, porque o tempo está se esgotando”, declarou, em entrevista à emissora MSNBC.
A pressão chegou à esfera dos doadores. O ator, diretor e produtor George Clooney, uma das estrelas de Hollywood e um dos principais financiadores do Partido Democrata, escreveu no jornal The New York Times: “Amo Joe Biden, mas precisamos de outro candidato”. “É terrível dizer isso, mas o Joe Biden com quem estive há três semanas não era o mesmo de 2010, nem mesmo o de 2020. Era o mesmo homem que todos nós testemunhamos no debate (com Donald Trump, em 27 de junho)”, afirmou Clooney, ao citar um evento de arrecadação de fundos, no meio de junho.
Trump reapareceu em público, na terça-feira, durante comício na Flórida, e aproveitou para alfinetar o potencial adversário nas eleições. O magnata republicano de 78 anos desafiou Biden para outro debate, “de homem para homem”, e para uma partida de golfe valendo US$ 1 milhão. Também acusou o presidente democrata de mentir sobre sua condição física e de orquestrar “o maior encobrimento da história da política” sobre a própria saúde. Até o fechamento desta edição, oito deputados democratas tinham feito um apelo a Biden para que desistisse. Na noite de terça-feira, o senador Michael Bennet tornou-se o primeiro a adotar a mesma atitude. “Acredito que Donald Trump está a caminho de ganhar estas eleições, talvez de maneira avassaladora, e de levar o Senado e a Câmara dos Representantes”, advertiu Bennet à CNN.
Reação mista
Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, concorda que vários democratas pediram publicamente que Biden seja preterido com candidato do partido. “Mas a maioria das autoridades do Partido Democrata, incluindo as mais proeminentes, não o fizeram. Essa reação mista tem permitido a Biden seguir com a campanha e com as atividades do governo, como cúpula da Otan, para tentar demonstar sua aptidão”, disse ao Correio. “Como Biden está comprometido a ficar na disputa, seria necessário um impulso forte e quase unificado dos líderes democratas e dos aliados dos grupos de interesse para convencer o presidente de que não conta com o apoio para continuar.”
O especialista admite que Trump deixou Biden preso a um dilema. “Se o presidente recusar os convites para a partida de golfe ou o debate, parecerá que ele tem medo de estar frágil para ser bem-sucedido. Se ele aceitar o desafio, poderá demonstrar fraqueza. E mesmo que ele se sinta bem, a imprensa e a campanha de Trump estão prontos a destacar qualquer sinal de fragilidade”, explicou Heberlig. Segundo ele, a equipe de Biden precisa que o foco da opinião pública esteja nas responsabilidades de Trump, e não mais no rescaldo do debate presidencial de 27 de junho.
Professora de relações internacionais da Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres, Leslie Vinjamuri avalia que a pressão pela desistência de Biden está aumentando. “Muitos membros do Congresso têm se manifestado, mas de forma cautelosa. No entanto, assim que a cúpula da Otan for concluída e os aliados dos EUA partirem de Washington e voltarem para casa, a pressão tenderá a aumentar ainda mais”, admitiu, por e-mail. Ela alerta que, caso o democrata se mantenha na corrida pela Casa Branca, estará todos os dias sob o radar daqueles que duvidam de sua saúde e de sua elegibilidade.
EU ACHO…
“Como Trump tem demonstrado, ignorar ou desafiar a pressão externa de outras elites políticas é algo bem possível. Biden detém os votos das eleições estaduais para vencer a nomeação, durante a Convenção Nacional Democrata, em 19 de agosto. Ele também possui a habilidade de resistir às pressões pela desistência.”
Eric Heberlig, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte
“Essas não são eleições normais. Os democratas veem Donald Trump como uma ameaça existencial à democracia nos Estados Unidos. O partido precisa estar unificado para levar o candidato à Casa Branca. Infelizmente, Biden tornou-se fonte de divisão.”
Leslie Vinjamuri, professora de relações internacionais da Faculdade de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres