Definitivamente no Brasil a deusa alada, a Jules Rimet, já para a Copa de 1974 a FIFA precisou bem depressa criar um novo troféu. E um concurso compacto definiu um artista italiano, de nome Silvio Gazzaniga, como o seu idealizador. Do talento de Gazzaniga brotou uma peça completamente diferente da Jules Rimet. Ao invés de se inspirar no padrões clássicos da Grécia o italiano investiu na modernidade, uma taça quase rústica, uma figura abstrata a carregar o globo terrestre. Apenas batizada de Coupe FIFA, uma taça para sempre transitória, ôca e com uma casca de 6,1kg de ouro, altura de 36,5cm e a base de malaquita verde e um anel de ouro, então avaliada em R$ 800 mil. Claro, cada ganhador da competição, desde então, teve direito a uma réplica. E a primeira, de 1974, ficou com a seleção hospedeira. Eis, final por final, pela nova Taça FIFA, ainda no Século XX.
ALEMANHA OCIDENTAL/74 (16 Nações)
Dia 7 de Julho
Alemanha Ocidental 2 X 1 Holanda
Munique, Olympiastadion, 79.000 espectadores
Árbitro: John Keith Taylor (Inglaterra)
Gols: Breitner/pen, Mueller X Neeskens/pen
Numa decisão estranha, ainda que equilibrada e cheia de emoções, a “Laranja Mecânica”, baseada no grande Ajax de Amsterdam, saiu à frente antes mesmo de se completar o minuto inaugural da pugna. Ainda na sua intermediária o insolente Johan Cruijff desandou a galopar e só cessou a investida porque sofreu um trançapé de Uli Hoeness, já dentro da área maior. Penal, que o gélido Jack Taylor não hesitou em apontar, e que Johannes Neeskens converteu. Também num penal a dona da casa igualaria, aos 26’, na descida fogosa do lateral-apoiador Paul Breitner, falta de Wim Jansen. O mesmo Breitner, que não escondia a sua admiração pela China Comunista de Mao Tsé-Tung, fez 1 X 1. Gerd Mueller, que fôra o artilheiro da Copa de 70 com 10 tentos, aos 44’ ampliaria o seu tesouro histórico a 14 num dos gols mais esquisitos de uma final, de virada e praticamente deitado no gramado. Azar da Holanda, que apenas viraria Neerlândia em 2021, na etapa derradeira se lesionaram o becão Rijsbergen e o atacante Rensenbrink.
ARGENTINA/78 (16 Nações)
Dia 25 de Junho
Argentina 3 X 1 Holanda (prorrogação)
Tempo normal: 1 X 1
Prorrogação: 2 X 0
Buenos Aires, Monumental de Nuñez, 77.300 espectadores
Árbitro: Sergio Gonella (Itália)
Gols: Kempes/2, Bertoni X Nanninga
A Ditadura Militar perpetrou o que pôde, nos bastidores, para melhor pavimentar o triunfo da seleção platina. Por exemplo, vetou Abraham Klein, o árbitro de Israel, como o apitador da decisão. E a FIFA, acovardada, depositou o gorila no colo do peninsular Sergio Gonella, que impediu os astros da “Laranja” de atuarem com a fluidez de praxe. Nos 90’ regulamentares, o mediador apontaria o absurdo de 50 infrações em favor da Argentina. Que inaugurou o placar aos 38’, numa arrancada típica do rompedor Mario Kempes. A Holanda, porém, não sucumbiu e procurou a reação. Até que, aos 81’, René Van DeKherkof cruzou, o lateral Tarantini e o central Galván se atrapalharam, e um ala espigado, Nanninga, empatou, 1 X 1. Inacreditável, a “Laranja” desperdiçou a chance dos 2 X 1 já quase nos acréscimos, quando Rensenbrink, cara a cara com Fillol, o arqueiro da “Albiceleste”, bateu no poste. A anfitriã se transformaria em campeã, na prorrogação, aos 104 e aos 114’, em lances de muita raça de Kempes e de Bertoni.
ESPANHA/82 (24 Nações)
Dia 8 de Julho
Itália 3 X 1 Alemanha Ocidental
Madrid, Estádio Santiago Bernabéu, 90.000 espectadores
Árbitro: Arnaldo César Coelho (Brasil)
Gols: Rossi, Tardelli, Altobelli X Breitner
Exibições patéticas na primeira das fases de grupos, crise com a mídia, que levou os atletas ao “silenzio stampa”, o repúdio aos jornalistas. E de repente, com o despertar do atacante Pablito Rossi, o alívio na segunda das fases, 2 X 1 na Argentina, 3 X 2 no Brasil. Daí a “Squadra Azzurra” explodiu rumo a uma conquista espetacular. E foi de fato deliciosa sua exibição diante da “Mannschaft” na final do Bernabéu. Antonio Cabrini desperdiçou um penal. Mas, o Pablito compensaria o infortúnio ao registrar de testa, aos 57’, depois de um cruzamento de Gentile. Aos 68’, fecho de uma troca de passes belíssima no flanco direito do seu ataque, a Itália duplicou, um arremate precioso de Marco Tardelli, de canhota, da meia-lua. Aos 81’, Bruno Conti dominou a pelota pouco adiante da sua área e atravessou o campo inteiro antes de tocar até Altobelli, que se livrou do arqueiro Schumacher e fuzilou, 3 X 0. Serviu de mero consolo o tento solitário de Paul Breitner, aos 83.
MÉXICO/86 (24 Nações)
Dia 29 de Junho
Argentina 3 X 2 Alemanha Ocidental
Cidade do México, Estádio Azteca, 115.500 espectadores
Árbitro: Romualdo Arppi Flho (Brasil)
Gols: Brown, Valdano, Burruchaga X Rummenigge, Voeller
Ocorreram nas quartas de final, pelo mal e pelo bem, os mo momentos mais marcantes da Copa de 86, a segunda vez no altiplano do México. Ambos protagonizados por Diego Maradona. E ambos em menos de cinco minutos do jogo com a atônita Inglaterra. Aos 51, a sua esfuziante arrancada desde a sua intermediária, uma linda sucessão de dribles e o gol na entrada da pequena área. E aos 55, o famigerado tento da “Mano de Diós”, em que Maradona iludiu o apitador Ben Naceur, da Tunísia. Mas, nada que ofuscasse o seu fulgor na decisão. Aos 22’, ele sofreu a falta que Burruchaga cobrou na testa de Brown. Aos 55, originou a tabela que acabou no passe de Héctor Enrique para o gol de Valdano. Estóica, em total desvantagem no preparo físico, a “Mannschaft” reagiu e empatou, aos 73 com o sacrificado Kalle Rummenigge e, aos 81, graças ao oportunista Rudi Voeller. Então, logo aos 83, Maradona se desvencilhou da marcação opressiva e cruel de Lothar Matthaeus e colocou Burruchaga na cara de Schumacher. Enfim ele levantaria a taça. Teatralmente, ao seu estilo.
ITÁLIA/90 (24 Nações)
Dia 8 e Julho
Alemanha Ocidental 1 X 0 Argentina
Roma, Stadio Olìmpico, 73.603 espectadores
Árbitro: Edgardo Codesal Méndez (México)
Gol: Brehme/pen
Antes que acontecesse a decisão de 1994, tecnicamente a pior final de toda a História da Copa da FIFA. A começar pela escolha do mediador, o mexicano Codesal, genro do cartola Guillermo Cañedo, um amigo velho do presidente da entidade, João Havelange. Obviamente, Codesal foi o protagonista central da ruindade do combate. Infernizou os nervos dos rapazes da “Albiceleste”, já devastada por suspensões e por contusões. Na realidade, a Argentina se apresentou, em Roma, com um time misto. E o mexicano, ainda, a prejudicou ao não apontar um pênalti claríssimo de Klaus Augenthaler em Gustavo Dezotti, e ao expulsar o atacante platino, além do zagueiro Monzón. Bem pior, aos 84’, definiu o resultado ao considerar que houve um penal numa entrada arriscada mas legítima de Sensini em Rudi Voeller. Das 11 jardas, Andreas Brehme converteu. Entraram para a antologia as cenas do encerramento, com Maradona a bradar “Hijos de puta” contra a cartolagem.
ESTADOS UNIDOS/94 (24 Nações)
Dia 17 de Julho
Brasil 3 X 2 Itália (prorrogação e penais)
Tempo normal: 0 X 0
Prorrogação: 0 X 0
Penais: 3 X 2
Pasadena, Los Angeles, Rose Bowl, 94.194 espectadores
Árbitro: Sandor Puhl (Hungria)
Penais: Romário, Branco, Dunga X Albertini, Evani
Até então, a primeira decisão nos penais desde a Copa do Uruguai, em 1930. E aconteceu, apenas, na 15ª edição da competição, debaixo de uma calorama deprimente, 35º, a “Azzurra” com quatro reservas em relação ao seu elenco da estreia e mais dois titulares em pleno sacrifício: Franco Baresi, o convalescente de uma artroscopia de joelho, três semanas antes; Roberto Baggio, o sobrevivente de crises e mais crises de cãibras e de contraturas musculares. Caso estivesse em forma o Roby não teria perdido a chance do 1 X 0 numa contra-ofensiva em que se deparou sozinho à frente de Cláudio Taffarel. Na prorrogação, o corinthiano Viola, um reserva, que ainda não tinha atuado, arrematou num poste. Vencido e agradecido, o arqueiro Pagliuca fez questão de beijar a trave. Nos penais, triste ironia, Baresi e Baggio, os heróis da Itália, erraram as suas cobranças.
FRANÇA/98 (32 Nações)
Dia 12 de Julho
França 3 X 0 Brasil
St.-Denis, Paris, Stade de France, 80.000 espectadores
Árbitro: Said Belqola (Marrocos)
Gols: Zidane/2, Petit
Uma porfia unilateral, pré-definida antes de principiar, na crise de pânico que acometeu Ronaldo Fenômeno, afetou a moral e a psicologia de toda a delegação – e simplificou o trabalho da hospedeira. Zizou Zidane abriu o placar aos 27’, num desvio de testa entre quatro adversários, depois de um escanteio batido por Emmanuel Petit. Aos 45’, de novo Zidane e de novo de cabeça e de novo num corner, desta vez levantado por Youri Djorkaeff. O Brasil sequer soube aproveitar a expulsão de Marcel Desailly, aos 68’, por dois cartões amarelos, e se confinou na inutilidade da troca de passes laterais. Então, nos acréscimos, quando o árbitro Belqola, o primeiro africano a apitar uma decisão, já se aprestava a encerrar a pugna, Patrick Vieira enfiou a Petit, pelo flanco esquerdo, e o loiro e cabeludo faz-tudo da França assinou o atestado de despedida do Brasil.
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