A onda de calor que atingiu a Europa nas últimas semanas elevou as temperaturas a um patamar recorde. O Reino Unido passou dos 40ºC pela primeira vez na história, mais de mil pessoas morreram em Portugal devido ao tempo e grandes incêndios foram registrados na Espanha. O que é uma excepcionalidade atualmente, todavia, se tornará o padrão nos próximos anos.
Segundo o PhD em física atmosférica e CEO da Meteum, Alexander Ganshin, será cada vez mais frequente as ondas de calor no Velho Continente. O especialista russo aposta que eventos como os registrados neste ano ocorrerão nos verões de agora em diante.
“No futuro se tornará mais frequente [as ondas de calor] devido às mudanças climáticas”, conta Ganshin em entrevista ao R7. “O que estamos vendo agora na Europa deve ocorrer quase todo ano”.
O PhD explica que as altas temperaturas no continente são causadas por anticiclones, caracterizados pelo “congestionamento” de ar quente parado e dias e noites sem nuvens.
“O céu limpo permite que o ar fique ainda mais quente. Tais situações já aconteceram, mas agora aparecem com mais frequência.”
Ganshin afirma que a média de temperatura continuará subindo não só na Europa, mas em todo o mundo — incluindo em outras estações do ano, como em inverno com temperaturas ainda mais baixas.
Em 2020, o serviço britânico de meteorologia Met Office fez uma projeção na qual a região de Londres alcançaria os 40ºC durante o verão de 2050. Entretanto, a capital inglesa chegou nesta semana a esta temperatura, mostrando o quão rápido estão ocorrendo as mudanças climáticas.
Segundo os especialistas do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, sigla em inglês), os seres humanos são os responsáveis por estas alterações. Os integrantes da agência ligada à ONU dizem que não há outra opção além de reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa. Atualmente, de acordo com o grupo, certas consequências já são irreversíveis.
O aumento da temperatura média não impacta somente no termômetro, mas também nos eventos climáticos. De acordo com Ganshin, será mais normal ver tempestades de grandes proporções e intensas nevascas, além de ondas de calor e de frio.
“Há um lado das mudanças climáticas que quase ninguém menciona ainda — o aumento da frequência de condições climáticas anormais”, explica. “O tempo em geral está mudando. Temos que nos acostumar com ondas de calor na Europa Sim. Isto significa que não terão períodos de tempo fresco no verão? Não”.
Gunshin destaca que o cenário das mudanças climáticas não é uma exclusividade da Europa. O especialista afirma que recordes como os vistos nos países europeus irão acontecer ao redor do mundo de diferentes maneiras.
“Novos recordes de diferentes tipos serão encontrados em diferentes locais e o conceito de condições de tempo anormais se tornará mais habitual para nós, sejam quedas bruscas de temperatura na Itália, ondas de calor na Noruega, chuvas tropicais na Lituânia ou neve no Brasil.”
O especialista acredita que o próximo verão europeu será até 2ºC mais quente que o habitual, com maior tendência de catástrofes climáticas nas regiões leste e norte do continente. Apesar da previsão, o PhD explica que é difícil prever precisamente quando eventos extremos deste tipo podem acontecer.
“É muito difícil prever um poderoso ciclone que talvez traga neve e geadas. Ainda não existem modelos capazes de calcular isto precisamente”, conclui Gunshin.